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FIV ou SIDA do Gato


Existem numerosos artigos sobre o FIV, ou Vírus da Imunodeficiência Felina, em diferentes sites e publicações, alguns bastante bem feitos, sérios, cientificamente fundamentados e já sem os preconceitos por vezes demasiado tenazes, que afectaram em tempos os portadores de SIDA humanos.

Dada a multiplicidade de boa informação disponível, vamos fazer apenas um breve resumo do que é e de como se apresenta o FIV.

O FIV

Descoberto no gato doméstico em 1986 por uma equipa de investigadores americanos, o Vírus do FIV é genética, morfológica, funcional e patologicamente semelhante ao HIV, mas transmite-se apenas entre felinos e não ao homem (1) nem às outras espécies animais.


Ambos são da família dos lentivírus, ou seja, vírus de acção lenta.

Tal como no SIDA humano, a infecção pelo FIV processa-se em dois tempos: uma fase de penetração do vírus, seguida de uma fase de propagação no organismo hospedeiro. Uma enzima viral, a transcriptase inversa, permite que o vírus (cuja informação genética é constituída por um filamento único de RNA) se transcreva num filamento de ADN (retrotranscrição). Este duplica-se e os dois filamentos integram-se no próprio seio dos cromossomas dos linfócitos infectados.

Em seguida, o vírus mantém-se inactivo durante um longo período que pode durar anos (daí o nome de lentivírus), até que a maquinaria celular produza, a partir dos genes virais, inúmeros virions. A superfície dos linfócitos fica alterada e estes deixam de ser reconhecidos pelas outras células protectoras do sangue, que os atacam e eliminam, criando deste modo um estado de imunodeficiência.


Jimmy, FIV positivo, ensina
Nino, FIV negativo, a mimar a luta

A sucessão das diferentes fases patológicas induzidas pelo FIV é semelhante às induzidas pelo HIV no homem:
  • A primeira etapa da infecção caracteriza-se por uma curta fase clínica de cerca de um mês, seguida de um período de incubação de duração equivalente.
  • A segunda etapa é a da seropositividade assintomática: tal como o homem nesta fase da infecção pelo HIV, o gato apresenta-se de boa saúde mas potencialmente contaminante. Não se sabe com exactidão qual a duração desta fase, mas pode prolongar-se por vários anos.
  • A terceira etapa da doença é constituída por uma linfadenopatia generalizada, síndroma caracterizado pelo inchaço dos gânglios linfáticos, que persiste em geral durante um ano, no máximo.
  • Por fim, a última etapa divide-se muitas vezes em duas partes: o ARC (AIDS Related Complex), que consiste no surgimento de sintomas associados à linfadenopatia da fase precedente, e a SIDA, caracterizada pela perda de defesas imunitárias que favorecem o surgimento de doenças oportunistas, que causarão a morte a curto prazo.

O gato que atinge esta fase tem uma esperança de vida de cerca de 3 meses, no máximo.

Tal como na SIDA humana, só é possível utilizar um tratamento paliativo (2).


Freddy, FIV positivo,
e a sua namorada Marylin, FIV negativa
O fraco impacto do FIV nos gatos errantes

Segundo as amostras sanguíneas obtidas em populações de gatos errantes por equipas de investigadores um pouco por todo o mundo, a taxa de prevalência é de 9 a 33%, consoante as populações. Uma síntese do conjunto dos trabalhos epidemiológicos realizados em todos os continentes dá como resultado uma taxa média de 11%, o que equivale a cerca de 45 milhões de gatos infectados dos cerca de 400 milhões de gatos domésticos que se calcula existirem em todo o planeta.


A especificidade do FIV entre as diferentes espécies de felinos, bem como a repartição mundial do vírus, a prova serológica da sua existência desde há pelo menos 25 anos e o fraco impacto do vírus (relativamente às outras causas de mortalidade) nas populações de gatos errantes constituem argumentos a favor do surgimento remoto do FIV, talvez mesmo antes da divisão dos felídeos nas diferentes espécies, há 3 a 6 milhões de anos.

Dado que um gato errante vive, em média, 3 a 4 anos e, em geral, não é infectado antes da idade de 1 ano,  poucos vivem tempo suficiente para morrer devido ao vírus do FIV, o que pode explicar o fraco impacto deste vírus nas populações errantes.

A  castração e a esterilização na base do controlo do FIV
Estudos orientados para o controlo e informação sobre o FIV demonstraram que, nas zonas em que comunidades de errantes são cruelmente dizimadas pela paranóia e histeria relativamente ao FIV, a prevalência deste vírus não é inferior à verificada noutras áreas em que as associações de protecção do gato não testam (3) nem eutanasiam os positivos.

Em contrapartida, nas comunidades protegidas, tratadas, alimentadas e sobretudo esterilizadas e castradas, os dados apontam para o controlo do vírus, ajudando a manter estável a população mundial de gatos infectados e mesmo a reduzi-la.


Os irmãos Dalton, testados FIV+ com o teste ELISA
e re-testados negativos com o teste em PCR,
juntamente com Freddy, FIV+,
e a sua amiga Sarita, FIV negativa

A salvação do gato errante, e mesmo do gato de família, muitas vezes positivo sem que se saiba, reside na sua CASTRAÇÃO, ESTERILIZAÇÃO, ALIMENTAÇÃO e PROTECÇÃO, já que o vírus residente na saliva utiliza como veículo o sangue, presente no acasalamento ou na dentada profunda aquando das lutas entre gatos, em geral adultos solitários ou chefes de clã, que defendem o seu território, a escassa comida ou a reprodução.

Por último, nunca é demais lembrar que a transmissão de mãe para filho é rara ou mesmo inexistente. Do mesmo modo, é igualmente raro o contágio entre gatos da mesma casa, se forem castrados, devidamente alimentados e vacinados.

O gato FIV+ não precisa pois de ser isolado, se forem respeitadas as regras básicas que permitem a boa convivência, a higiene e a saúde do grupo em que vive. O vírus sobrevive apenas cerca de 10 minutos ao ar livre e é eliminado pelo mais comum dos produtos de limpeza.

Por outro lado, a solidão, o isolamento, a tristeza da rejeição e o stress podem precipitar o surgimento da fase de declaração da doença.


Rouzmouz, ex-errante FIV positivo,
repousa a cabeça na mão de A.
O gato FIV positivo

Segundo vários testemunhos, o FIV+ é ainda mais sensível e afectuoso que os gatos em geral.

Muitos donos de gatos FIV+, assim como muitas pessoas que têm tido a generosidade e abertura de espírito suficientes para adoptar FIV+ errantes ou acolhidos em instituições de protecção animal, contam a que ponto este marginalizado, ainda mais escorraçado que os seus irmãos de infortúnio, modificou de forma comovente as suas vidas e mesmo a sua visão do gato em geral. 


(1)
O contágio do homem pelo FIV parece ser impossível. Várias equipas de investigadores tentaram demonstrar esta eventualidade. Todos os resultados foram negativos, o que leva a concluir que o FIV e o HIV são suficientemente diferentes um do outro para que não haja qualquer contágio recíproco.

Foram ainda realizados testes de despitagem de infecção pelo FIV e pelo HIV em dezenas de pessoas que estão diariamente em contacto com o FIV (técnicos, investigadores, empregados de refúgios, etc.), tendo-se concluído que nenhuma destas pessoas foi infectada.

(2) Está já a ser comercializada nos EUA uma vacina que, no entanto, tem gerado alguma polémica. Por um lado, esta vacina não é eficaz a 100% e, por outro, os gatos vacinados acusarão sempre FIV positivo depois de vacinados, o que coloca a questão de nunca se saber se o gato é positivo ou se acusa positivo por lhe ter sido ministrada a vacina.

(3) Sobre a fiabilidade dos testes, ver o nosso texto "Os testes FIV e FeLV".