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PIF - Peritonite Infecciosa Felina

 

Em homenagem a Gamin, Chatroux, British e tantos outros
abandonados e/ou eutanasiados por "suspeita" de PIF.

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A Peritonite Infecciosa Felina é uma doença que vem sendo, há vários anos, objecto de uma certa paranóia, essencialmente alimentada por um desconhecimento total ou parcial desta patologia.

Trata-se, sem dúvida, da doença felina mais misteriosa e, por conseguinte, da mais sujeita a psicoses.

Apresenta-se adiante um brevíssimo resumo sobre a PIF, que permitirá restabelecer algumas verdades.

A PIF é uma doença viral muito grave e mortal, que atinge sobretudo os gatos jovens com idade inferior a 2 anos e que vivem em comunidade. Pode atacar diferentes órgãos: tórax, abdómen, cérebro, olhos, etc.


Em primeiro lugar, convém estabelecer uma diferença básica entre um gato que é positivo ao coronavírus (o que é muito frequente: calcula-se que 90% da população felina esteve, pelo menos uma vez, em contacto com este vírus) e um gato que desenvolve uma PIF.

De modo algum se pode raciocinar em termos de "gato positivo ao coronavírus = gato com PIF ou gato que vai declarar uma PIF".

É igualmente importante riscar do vocabulário os termos "teste PIF" ou "positivo PIF".

Um teste é um "teste coronavírus", um gato é "positivo ao coronavírus".

Estudos realizados em Inglaterra, durante exposições felinas, revelaram que 84% dos gatos eram positivos ao coronavírus. Calcula-se que a situação das populações felinas nos outros países seja a mesma.

 

Chatroux... Quando cheguei, era tarde demais!

Chatroux era diabético, sofria de desnutrição e apenas queria que lhe dessem comida e o deixassem em paz.

Mas era positivo ao coronavírus e não passava de um pobre errante incómodo. O "diagnóstico" de PIF, que nunca teve, vinha mesmo a calhar...

 

SINTOMAS

A PIF pode apresentar duas formas principais:

  • A forma húmida, com formação de derrames líquidos, em que as cavidades naturais do organismo do gato se enchem de um líquido produzido pelas próprias células do sistema imunitário. Este líquido, que pode encher o abdómen ou o tórax, ou ambos os órgãos, dificulta o seu funcionamento:

- a nível respiratório, se o líquido estiver presente no tórax,

- a nível digestivo, se o líquido se situar no abdómen.

  • A forma seca, que pode atingir qualquer órgão, e por vezes vários ao mesmo tempo. Neste caso, esses órgãos deixam de funcionar correctamente. Por exemplo, se for o fígado, surgirá uma icterícia, perturbações digestivas, etc.

Os gatos doentes com PIF apresentam muitas vezes uma uveíte - inflamação do tracto uveal, difusa ou parcial, que afecta a sua parte anterior, a íris e o corpo ciliar (iridociclite), ou a sua parte posterior, a coroideia (coroidite). Os olhos mudam de cor e podem adquirir um tom castanho avermelhado.

A PIF desenvolve-se na sequência da mutação de um banal coronavírus entérico, presente na maioria dos gatos. Ignora-se qual o processo que provoca esta mutação, e pensa-se que alguns gatos poderão ter uma predisposição genética pelo facto de possuírem um sistema imunitário que se defende mal contra uma infecção pelo coronavírus. Este factor, juntamente com uma situação grave de stress, pode favorecer a mutação de um coronavírus benigno num coronavírus patogénico e desencadear uma PIF. Todavia, a percentagem de gatos positivos ao coronavírus e que desenvolvem uma PIF é mínima (cerca de 5%).


Num artigo escrito em 1999, P. J. Rottier refere a importância de o gato ter um sistema imunitário capaz de impedir completamente a infecção ou, pelo menos, de a conter o mais possível. Os conhecimentos actuais na matéria indicam que é preferível privilegiar uma boa imunidade celular (leucócitos e macrófagos) em lugar de seleccionar uma forte resposta de anticorpos. O problema é que nenhum teste permite ainda controlar este parâmetro
.

Um estudo descrito por K. Hok relata que há uma grande mortalidade nos gatinhos negativos ao coronavírus quando são introduzidos num ambiente coronavírus positivo: 90 a 100% dos gatinhos que faleceram nos dois meses seguintes à sua introdução num ambiente contaminado, em comparação com uma taxa de apenas 2 % a 12 % de mortalidade nos gatinhos portadores de coronavírus.

No entanto, constata-se igualmente a existência de muitos casos de gatinhos negativos ao coronavírus introduzidos num ambiente coronavírus positivo que não desenvolveram PIF, o que demonstra que, no estado actual da investigação, se ignoram ainda bastante quais os factores que podem desencadear a PIF.

Até ao momento, foram circunscritos alguns factores que podem favorecer o surgimento da PIF:

  • Grandes comunidades de gatos, o que favorece a multiplicação do vírus e respectiva mutação
  • O factor genético (alguns gatos são mais propensos a desenvolver uma PIF do que outros)
  • O stress biológico (doenças, cios, gestação)
  • O FIV e o FeLV (os gatos positivos estão mais em risco do que os outros).   

 

Gamin, símbolo do errante que não é de ninguém e de cuja vida e morte todos podem dispor...

Gamin era um gatinho da rua, bravo e aterrorizado.
Foi maltratado no veterinário, por vingança e falta de compaixão.

Diagnóstico: PIF nunca confirmada.

Gamin é o símbolo de todos aqueles que metem medo a alguns veterinários de gatinhos de família, por os confrontarem com a sua incompetência e com a realidade do errante.

CONTÁGIO:

Contrariamente ao que se pensa, uma PIF declarada não é contagiosa. Um gato com PIF já não excreta o coronavírus. Por conseguinte, não se pode falar de contágio de PIF, mas apenas de transmissão do vírus.

As fezes são a primeira fonte de transmissão do coronavírus. Os gatos contaminam-se ao partilharem o mesmo areão e ao respirarem poeiras de fezes quando mexem no areão. Um gato que acabe de ser infectado pelo coronavírus excreta o vírus na saliva durante alguns dias. Um gato que seja levemente positivo ao coronavírus não excreta.

Nunca foi possível determinar a transmissão do vírus "in utero" (da mãe à cria). O coronavírus não pode ser transmitido pela urina.

O contágio indirecto é difícil, mas possível, no caso de o dono do gato transportar nos sapatos poeiras de fezes. Além disso, um gato que se encontra no início da contaminação, excreta o coronavírus na saliva durante um lapso de tempo limitado.


Os gatos mais em risco são os jovens ou os idosos que vivem em grupo e, sobretudo, os que vivem em grupos fechados, nomeadamente nas instalações de criadores.
 

DETECÇÃO DO CORONAVÍRUS:

Existem vários testes de despistagem para detectar a presença do coronavírus:

O teste ELISA 

Trata-se de um teste baseado na detecção de anticorpos ao coronavírus. A detecção faz-se através de uma amostra sanguínea. A resposta é "sim" ou "não". O inconveniente deste teste é que apresenta muitos falsos negativos, mas também muitos falsos positivos. Este teste não é considerado fiável (como todos os testes ELISA, em geral feitos no consultório veterinário, para o FIV ou FeLV).

Contagem de anticorpos

Sob este termo genérico, englobam-se todas as técnicas que consistem em determinar a taxa de anticorpos anti-coronavírus presente na amostra sanguínea. Contrariamente ao teste ELISA, são testadas uma série de diluições da amostra sanguínea, o que permite ter uma ideia da taxa de anticorpos. É importante referir que a contagem obtida é variável em função do laboratório que a pratica, o que significa que este teste também não é fiável.

Teste RT – PCR (Reacção em cadeia pela polimerase)

Este teste é considerado o mais fiável para detectar a carga viral. Os testes PCR detectam directamente os coronavírus, ou mais exactamente o seu material genético, o ARN. A técnica chamada de RT-PCR quantitativa permite quantificar com grande precisão o número de partículas virais na amostra.

É essencial compreender que este teste não deve ser praticado sobre uma amostra de sangue: visto que os coronavírus não passam sistematicamente a barreira intestinal, este tipo de teste apresenta demasiados riscos de falsos negativos. Por outro lado, contrariamente a uma ideia demasiado generalizada, não é porque o vírus se encontra no sangue que o gato desenvolverá automaticamente uma PIF e inversamente... não há correlação entre a presença de coronavírus no sangue e o surgimento de PIF.

O teste ideal é praticado por esfregaço rectal, mas também pode ser praticado sobre uma amostra de fezes. Constitui uma "fotografia" do estatuto do gato (excretor ou não excretor) no momento em que a amostra é colhida. Para determinar com exactidão a negatividade de um gato, é necessário obter 5 resultados negativos com um mês de intervalo entre si.

Diga-se, no entanto, que nenhum teste permite dizer que um gato poderá vir ou não a desenvolver uma PIF. Um gato pode ter um nível elevado de coronavírus e gozar de excelente saúde e viver mais de 15 anos. Pode igualmente negativizar-se, eliminando o vírus em poucos meses. É importante não ceder à psicose: um teste positivo não é, de modo nenhum, sinónimo de PIF!

 

DIAGNOSTICAR UMA PIF 

Para estabelecer um diagnóstico de PIF na presença de sintomas clínicos, pode-se proceder a um teste por electroforese das proteínas (procedimento laboratorial para a separação e observação de proteínas que podem ser utilizadas como marcadores genéticos). Este teste permite dosear a proporção das diferentes globulinas (anticorpos) no sangue.

A relação A/G (albumina-globulina) é um dos parâmetros a medir em caso de suspeita de PIF.

Este teste deve ser praticado depois de o veterinário ter posto em evidência vários sintomas de PIF (abdómen inchado, prostração, mudança da cor dos olhos, etc.).

Todavia, estes mesmos sintomas podem igualmente indicar outras doenças e não bastam para concluir que se trata de PIF.

 

British, doce como uma flor...

British, meigo como uma flor, abandonado, vagueou e sofreu. O stress desencadeou a PIF húmida.

Lindo e afável, viveu ainda algumas semanas de amor e carinho, antes de partir tranquilamente para o país das caçadas eternas.

Efectivamente, algumas doenças apresentam sintomas clínicos muito semelhantes aos da PIF:
  • Colangio hepatite (muito bom prognóstico, mas muitos gatos foram eutanasiados por "sintomas" de PIF)
  • Linfoma
  • Peritonite séptica
  • Piotórax
  • Quilotórax 

Para afinar o diagnóstico em caso de PIF húmida, o veterinário deverá extrair o líquido abdominal e fazê-lo analisar em laboratório. Se o estado do gato lhe permitir sofrer uma anestesia, o veterinário poderá proceder a uma biópsia para uma análise histológica. Porém, o único meio 100% fiável de ter a certeza que se trata de uma PIF é a autópsia...

Resta-nos lamentar que alguns veterinários tenham tendência para diagnosticar um pouco ao acaso e levianamente uma PIF, quando se deparam com sintomas que não são capazes de tratar ou diagnosticar. Um veterinário que conclua, com base num simples teste positivo em serologia, que um gato sofre de PIF, torna-se responsável de um grave erro profissional.

Do mesmo modo, vê-se em muitos anúncios de criadores a menção "negativo à PIF"... o que demonstra, no mínimo, ignorância e muita irresponsabilidade.

TRATAMENTO:

No caso de suspeita séria de PIF, após um diagnóstico apoiado pelos exames adequados, podem ser utilizados corticóides, assim como injecções de interferon. Mas o tratamento é apenas paliativo. A PIF é mortal a 100%.

PREVENÇÃO:

Ter pelo menos um tabuleiro de areão para dois gatos quando há vários gatos na mesma casa e limpá-los escrupulosa e regularmente com lixívia;

Minimizar as situações de stress para o gato: demonstrou-se que a maioria dos gatos que contraíram uma PIF tinham estado expostos a uma situação de stress. Os gatos com PIF húmida (com derrames) tinham sofrido de stress 2 a 4 semanas antes de a doença se declarar, enquanto que os gatos com PIF seca (sem derrames) tinham sofrido de stress 1 ano ou mais antes. Por conseguinte, é recomendável evitar o stress nos gatos cuja taxa de anticorpos é positiva. Por exemplo, evitar mudá-los de família, fazer qualquer operação não urgente ou pô-los em pensão num gatil na altura das férias. Do mesmo modo, adiar a esterilização para o mais tarde possível.

Exemplos de situações stressantes para os gatos:

  • Mudança de casa ou de proprietário
  • Abandono
  • Alterações em casa: chegada de um bebé, de um cão ou de outro gato
  • Demasiados gatos no mesmo espaço
  • Permanência num gatil (férias, captura por gatis mal equipados)
  • Operação (esterilização, limpeza de dentes, etc.)
  • Traumatismo (por exemplo, acidente)
  • Uma doença
  • Gestação, parto, amamentação

 

Para informações mais detalhadas e dados sobre o estado de avanço dos conhecimentos em matéria de PIF, consultar:

http://www.dr-addie.com/category/feline-infectious-peritonitis/