OS GATOS DEIXAM PEGADAS NO NOSSO CORAÇÃO

Refúgio Jimmy

Budagodes, João Gatão, Ipanema, Mali, Silvestre, Caipirinha, Leo, Xica, Gertrudres, Dona Branca, Xana, Lolita, Laçarote, Fénix e Mocha.

Há mais de 10 anos, segundo reza a lenda local, que os tristemente famosos Gatos das Arribas viviam na maior das misérias nos buracos da falésia, sempre cheios de água, sobre a Praia dos Pescadores.

Os sentimentos dividiam-se entre aqueles que achavam "muita graça", os turistas que maldiziam tanta desgraça num "país de pobretanas e atrasados" e os que inventavam soluções para alimentar esses gatinhos, tentando que ao menos não morressem de fome.

Entre as doenças, as gaivotas que levavam as crias, a morte por queda na praia e os humanos que, em noites de bebedeira ou desvario de tédio, lhes deitavam cigarros acesos para os pratos, os gatinhos das Arribas foram sobrevivendo.

O Budagodes é o chefe dos Ribinhas.

Na pequena e simpática comunidade cigana perto da Vila, estes gatinhos eram acarinhados. Mas as condições em que viviam não eram as melhores, porque eram gatinhos doentes.

Ficaram lá 3 meninas, bem ambientadas e saudáveis, para as quais a comidinha, dividida da panela dos humanos, chega e sobra.

Ali muito perto, outros gatos tentavam sobreviver com os restos de pão, água com gordura e espinhas que algumas almas caridosas lhes deitavam no chão quando iam despejar o lixo... De ambos os grupos, acolhi um total de 11 no Refúgio, lindos e simpáticos, que ostentam agora o ar feliz da vida ao ar livre junto dos companheiros. A Moreninha, o Ballardo, a Esther e o Spok vivem no Sector Ribas, os outros 7 no Sector Roy.

A Libelinha "vivia" no parque de estacionamento de um supermercado com os 3 filhotes bebés, estendendo a pata à caridade de quem acaso os visse e lhes desse algo de comer. Novamente grávida, pois claro!

Esta pequena família aterrou no Refúgio e vive agora em total harmonia com os Ribinhas como se sempre os tivesse conhecido.

Irmãos na miséria, a vida é agora mais suave para eles.

Tamir, Ronnie e Mick

O Tamir foi o único sobrevivente de uma das minhas colónias que foi desaparecendo sem se saber porquê.

Um dia uma nova gatinha surgiu com 3 filhotes. Mais tarde, a gatinha desapareceu e dela ficaram 3 filhos, um preto e um preto e branco, assim como um tigrado que encontrei morto..

Nesse dia, a decisão foi tomada, com ou sem espaço no Refúgio... Os Ribinhas apertaram-se um pouco para receber os novos companheiros de miséria.

Destituído de inibições, o Tigris é um gato perfeito!

Belo, meigo, pacífico, brincalhão, sociável com humanos e gatos, qual terá sido a sua vivência para surgir esfomeado e cheio de feridas em redor do Refúgio?

Seja como fôr, ali está ele nos Ribinhas e nada o perturba.

Seres extraordinários, frágeis como a borboleta e sólidos como a rocha.

Como muitos outros, a gatinha Jane não sabia viver na rua. Fugidia e tímida, não conseguiu integrar-se na colónia onde a encontrei, fugindo constantemente em perigo de ser atropelada quando vinha comer.

Escolhi para ela o Sector Ribas, espaçoso e acolhedor.

Um pouco solitária, mas sem qualquer agressividade, a Jane espera agora a minha chegada em segurança.

Já sabem por que motivo retirei a magnífica Peggy, a quem sempre chamei a "minha branquinha", da sua colónia bem situada.

E também sabem como se integrou de forma inesperadamente feliz nos Ribinhas...

A minha bela branquinha engordou e o pêlo, antes sujo e encharcado quando chovia, está brilhante e sedoso.

Que mais exigir do Refúgio Jimmy?

Um dia, quando tentava capturar uma gatinha a pedido de alguém, vi surgir dentro da armadilha um gato preto.

Magro e esfomeado, nem o movimento de surpresa que fiz o demoveu. Manteve-se firme, comendo e comendo...

Após uns segundos de hesitação, fechei a armadilha e lá seguiu o Romeiro para o Refúgio, depois da passagem obrigatória pela clínica para castração e controlo médico.

O Romeiro é muito calmo e começa a aceitar as carícias.

Quem é o Romeiro e donde veio? Ninguém sabe!